quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Carta aos Candidatos

Quando vocês, candidatos, se comprometem com o falso moralismo e a hipocrisia, automaticamente, se comprometem com a morte de 200 brasileiras por ano. Não contabilizemos o número de mulheres que fazem abortos em açougues por aí e que sobrevivem. Por favor, menos hipocrisia e mais racionalismo.
Quando se comprometem com a ignorância ao perfil laico do estado, deixam de lado o número de ateus ou não-cristãos que temos no Brasil.
Quando se comprometem com a homofobia, impedem o Brasil de alcançar o avanço dos direitos humanos que já legaliza o casamento entre pessoas do mesmo sexo em vários outros países, inclusive entre os hermanos argentinos. O número de homossexuais assumidos que andam nas ruas, trabalham e querem para si o DIREITO QUE TODO CASAL tem do casamento, da pensão, etc,
Espero que a proposta de governo de vocês não compactue com a tortura se for da vontade da maioria egoista e egocentrica da população que visa perpetuar os seus próprios valores socio-religiosos por aí.
Liberdade de crença, sim. Liberdade de crença inclui em dar ao outro o direito de não acreditar.
Quando os senhores ignoram essa parte da população em troca de votos, o Brasil retrocede e dói no coração de brasileiros que só querem o mesmo respeito às suas crenças e opções que os demais têm. Brasileiros que não são menores ou desqualificados. Brasileiros que se distanciaram do senso-comum e são consideradas anormais. Agora, por favor, não esqueçam que o ESTADO É LAICO e nos respeitem enquanto brasileiros que somos.
Pouco me importa a crença dos senhores candidatos, eu quero que o direito de TODO E QUALQUER BRASILEIRO INDEPENDENTE DE CREDO, COR, OPÇÃO SEXUAL SEJA ACEITO E RESPEITADO.
Atenciosamente,



Camila Mattos da Costa


PS: Discutam mais políticas públicas sérias e menos religião. O Brasil agradece.

PS: Espero que os senhores governem para todos os Brasileiros.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Meu Amigo, o Cézar

Eu guardo papel. Vulgarmente seria chamado de Arquivista, mas no fundo mesmo, o arquivista não passa de um guardador de papel alheio e existem grandes chances de ser um ser incapaz de arrumar sua própria bagunça. Foi guardando papel que eu conheci o Cézar quando ele chegou de mala e cuia, hoje o Cézar é com quem passo meus dias. Às vezes, com o Cézar e com o Eduardo. Outras com o Cézar e o Leonardo ou o Otávio.

Lá tem a Julia, o Felipe, a Amanda, a Mariana e o Benjamin. Eles também são amigos desse povo todo. Aliás, o Felipe tá nessa de ser amigo do Cézar também. Um monte de coisa que o Cézar me conta, eu acabo contando pra ele. Mas cada um tem o seu melhor amigo. Por exemplo, o da Julia era o João.

Mas isto é pra falar do Cézar. Estou com ele na saúde e na doença. Na verdade, já me arrancaram lágrimas estar com ele na doença. Ele me apresentou uma versão nova do Fidel: um Fidel pra lá de charmoso e jovem. Desde que me conheço por gente, o Fidel tá meio velho, mas o Cézar mudou isso. O Fidel até lembra um amigo bastante atraente.

Outras pessoas passam pelo meu relacionamento com o Cézar. Que pessoa popular. Visita da Madre Teresa, aquela de Calcutá mesmo, tem a Maria Betânia no auge da juventude e o mesmo cabelo. Alguns dos amigos do Cézar são atrizes, outros políticos ou personalidades. Mas repito, o Cézar tem bastante amigo.

Com o Cézar lancei alguns livros e tomei banho de piscina. Ele me levou a Paris onde tem um belo apartamento, ao Egito, se não me engano. Levou-me a uma fábrica alemã. Apresentou-me sua amada Amelie que agora conheço bastante. Uma certa Revolução em Bogotá que não aparece no google.

Os dias passaram pro Cézar com menos velocidade do que os dias dele passam pra mim. É um constante flashback. Hoje, ele tem muitas forças. Amanhã, nem tantas. Mas o que doeu mesmo foi a maneira como Cézar se despediu da vida. Era uma mistura de tristeza e consciência sem deixar de ser inteligente. Se eu crescer e for metade do Cézar, eu serei gente bem grande.

O mais engraçado do meu relacionamento com ele é o fato dele não pensar na minha existência. Longe disso, Cézar não está entre nós. Talvez hoje eu seja sua melhor amiga pra quem ele é incapaz de esconder segredos e o cara nem sabe que eu existo? Talvez essa seja a sina do Arquivista. Ao manter viva a memória dos outros, ele as torna parte da sua própria memória. Ou como diria um outro amigo destas bandas: estas são “Minhas Memórias dos Outros”.

Rio de Janeiro, 28 de Julho de 2010.

Meu irmão e eu

Outro dia, o meu irmão me fez uma espécie de elogio. Ele nunca elogia se não é perguntado. Neste dia, ele disse que era muito chato pras outras mulheres o fato do meu cabelo ter passado o dia todo aprisionado num coque e quando solto ainda estar bonito. Não tinha parado pra pensar no elogio meio irônico do meu velho irmão, mas agora, me lembrou ao velho avô que sempre que perguntado se eu estava bonita ao estar me olhando pela milionésima vez no espelho, ele dizia: ta bonita, sim. Agora anda logo pra não se atrasar. Na semana anterior a partida do meu velho, ele disse que eu era bonita e não falou nada sobre o atraso. Depois disso, meu velho nunca mais falou nada. Quando o velho partiu, eu não queria acreditar. Não era mesmo fácil viver sem ele e nós seguimos vivendo.

Nesta época, quem deixou o lar fui eu. Deixei meu pai e meu irmão na casa. Nenhum dos dois ocupou o quarto. Fica meio vazio, meio a espera da Dona ainda que eles não digam nada sobre isso. Quando eu disse que sairia, meu pai disse que meu quarto não estaria esperando meu retorno. Acho que ele desejou o meu fracasso pra que pudesse estar de volta. Tem dias, eu assumo, que eu desejo meu fracasso também e o retorno ao que chamo de lar.

Estou entediada e sei que em casa não ficaria assim. Em casa também não ficava sozinha sempre. Gustavo teria preparado algo pra nós dois. Afinal de contas, existem muitas coisas para serem vistas.

Estar longe dele me lembra dos dias em que não agüentei e vim atrás dele quando ele veio morar com o nosso pai. Gustavo escolhia ficar de castigo comigo quando eu era respondona. Detestei quando ele jogou futebol pela primeira vez, não jogava aquilo e ele não estava comigo. Detestei quando levei uma chinelada por causa dele. Senti orgulho dele algumas vezes e me frustro por ele se sentir infeliz. Fiquei intimamente feliz quando ele, bêbado, me ligou de madrugada. Nem todo mundo liga pra irmã.

Se eu escutasse o que papai dizia, não o teria deixado aflito e não teria tanta saudade do meu grande irmão.

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Testando...