terça-feira, 12 de outubro de 2010

Meu Amigo, o Cézar

Eu guardo papel. Vulgarmente seria chamado de Arquivista, mas no fundo mesmo, o arquivista não passa de um guardador de papel alheio e existem grandes chances de ser um ser incapaz de arrumar sua própria bagunça. Foi guardando papel que eu conheci o Cézar quando ele chegou de mala e cuia, hoje o Cézar é com quem passo meus dias. Às vezes, com o Cézar e com o Eduardo. Outras com o Cézar e o Leonardo ou o Otávio.

Lá tem a Julia, o Felipe, a Amanda, a Mariana e o Benjamin. Eles também são amigos desse povo todo. Aliás, o Felipe tá nessa de ser amigo do Cézar também. Um monte de coisa que o Cézar me conta, eu acabo contando pra ele. Mas cada um tem o seu melhor amigo. Por exemplo, o da Julia era o João.

Mas isto é pra falar do Cézar. Estou com ele na saúde e na doença. Na verdade, já me arrancaram lágrimas estar com ele na doença. Ele me apresentou uma versão nova do Fidel: um Fidel pra lá de charmoso e jovem. Desde que me conheço por gente, o Fidel tá meio velho, mas o Cézar mudou isso. O Fidel até lembra um amigo bastante atraente.

Outras pessoas passam pelo meu relacionamento com o Cézar. Que pessoa popular. Visita da Madre Teresa, aquela de Calcutá mesmo, tem a Maria Betânia no auge da juventude e o mesmo cabelo. Alguns dos amigos do Cézar são atrizes, outros políticos ou personalidades. Mas repito, o Cézar tem bastante amigo.

Com o Cézar lancei alguns livros e tomei banho de piscina. Ele me levou a Paris onde tem um belo apartamento, ao Egito, se não me engano. Levou-me a uma fábrica alemã. Apresentou-me sua amada Amelie que agora conheço bastante. Uma certa Revolução em Bogotá que não aparece no google.

Os dias passaram pro Cézar com menos velocidade do que os dias dele passam pra mim. É um constante flashback. Hoje, ele tem muitas forças. Amanhã, nem tantas. Mas o que doeu mesmo foi a maneira como Cézar se despediu da vida. Era uma mistura de tristeza e consciência sem deixar de ser inteligente. Se eu crescer e for metade do Cézar, eu serei gente bem grande.

O mais engraçado do meu relacionamento com ele é o fato dele não pensar na minha existência. Longe disso, Cézar não está entre nós. Talvez hoje eu seja sua melhor amiga pra quem ele é incapaz de esconder segredos e o cara nem sabe que eu existo? Talvez essa seja a sina do Arquivista. Ao manter viva a memória dos outros, ele as torna parte da sua própria memória. Ou como diria um outro amigo destas bandas: estas são “Minhas Memórias dos Outros”.

Rio de Janeiro, 28 de Julho de 2010.

2 comentários:

  1. Demais. Meu professor de Oficina de Narrativas ia adorar isso. Acho que vou levar na aula que a gente pode ler coisas dos outros.

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  2. Muito bom mesmo seus textos. Este então...parabéns Camila :)

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