quarta-feira, 31 de agosto de 2011

As cartas que não mandei I

O Corpo dele pesava sobre o dela. Isso era o menos importante. O que ela gostava era do som que ele emitia. Sincronizado com o movimento do corpo dele. Entrava e saia do dela. Era a música que saia dos corpos nus. Logo ele que musicava palavras era capaz de fazer com que a mais bela melodia saísse de sua respiração cansada, do instinto animal de seu corpo.

Ela podia resistir ao seu toque suave, à voz doce. Podia resistir ao corpo que se encaixava no seu. Resistiria até ao jeito que ele alisava seus cabelos. Lutaria contra o desejo que os unia. Só não era forte o bastante para resistir ao ofegar dele. Só não podia vencer a canção que saia do corpo dele e invadia seus ouvidos. Como era gostoso ouvi-lo ofegar. Era a melhor parte do sexo. Já nem se lembra se ela fazia silêncio. Se ela calava era para que a respiração dele ecoasse por todos os cantos do quarto.

Aquele ofegar fazia com que ela esquecesse a falta de tempo, a correria, a vida que seguiu e segue todos os dias. Tirava dela o peso do mundo. Conseguia ser melhor que Chico e Caetano, mais sexy que Gotan Project. Era a música dos anjos se anjos existem. A harpa dos deuses se é possível acreditar em deus. O melhor de tudo, ele era humano, sensual, carnal, sexual. Pra ela, era divino ser humana com ele. Era sublime estar na cama dele.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Carta de Alice

Pequena, o mundo não é uma maravilha. Você verá muitos coelhos apressados a gritar sua falta de tempo. Verá chapeleiros tão loucos quanto a tua história te contou. Tem muita gente insana no país das maravilhas, amor. Não que você conheça o significado de insanidade, mas você, pouco a pouco, descobrirá o que as palavras querem dizer.

Às vezes, as pessoas serão cruéis contigo. Umas o farão porque te ver pequena fará delas grandiosas. Haverá gente mesquinha e cruel. Quando se deparar com esse tipo de gente, minha Alice, sorria. Muita gente é digna de piedade e não será de amor ou de ódio.

Em outros dias, pedras surgirão no teu caminho. Pule-as, chute-as, mas não pare. Só para quando você quiser e não deixe que dificuldades atrapalhem teus planos e teus sonhos. Também irá querer parar e não conseguirá e em outras você não vai querer e forças te pararão.

Menina, você verá que as alegrias chegarão. Haverá amores, haverá passeios de verão, chuvas que lavam o corpo e consolam a alma. Tua vinda nos fez tão feliz que tentaremos impedir que o mal de alcance, mas falharemos porque todo mundo falha, você verá.

Daremos flores e abraços. Desejamos que teus vestidos sejam leves assim como teu andar. Que você seja capaz de sonhar tão alto que flutue.

Que encontre tantas coisas coloridas quanto for capaz. Que encontres coisas pelo caminho e só cate aquilo que tiver valor pra você. Quen encontre um número grande de amores sadios e um amor que te doa para aprender que o amor dói também. Que tenha muitos amigos bons, um pequeno número de maus amigos. Que te levem pro mau caminho, mas que não te abandonem lá.

Seja alegre, suspire, corra,. Que o teu mundo seja um arco-íris e com cores vibrantes. Desejamos bochechas rosadas de alegria e de vergonha.

O Mundo não será só crueldade. Haverá beleza onde você nem imagina. Haverá música dos corações, do ofegar das pessoas, haverá samba se de samba você gostar. Haverá luz no fim do túnel, novo amor quando um velho acabar.

Desejo-te um mundo de alegrias, oportunidades, cores, lugares, viagens. Você ainda nem nasceu e eu já te sufoco de desejos. Quanta cobrança! Desejamos que sua vida seja cheia de vida, minha pequenina.

Enquanto desejo, aguardamos a chegada nos nossos braços. Teus pequenos dedos a segurar as mãos. Aguardo, Princesa Alice, teu sorriso e teu choro. Te asseguro também que tua mãe te espera tanto que chega a chorar de aflição.




Com amor,

Dinda






segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O filho

- Um filho? – disse ela com espanto. Como ele podia querer isso dela? Não era justo, não era ele quem devia decidir quando eles teriam uma criança. Não era egoísmo, era falta de capacidade. Não se sentia apta a colocar alguém no mundo. Era demais pra ela. Além de uma injustiça com o ser que lançariam nesse mar de insegurança.

- Um filho! – disse-lhe achando que compartilhava a melhor novidade da face da terra. Sentia-se a vontade para ser pai ao lado dela e fazer dela a mãe de seus herdeiros. Era o ato mais altruísta que pensou. A maior declaração de amor que podia fazer. Isso, sim, era amor. Contou-lhe seu desejo aguardando que ela pulasse no seu pescoço e beijasse a face até ficar avermelhada. Ela nada o fez.

Queria chorar de ódio. Como ele podia ser tão egoísta. Ela tinha tantos planos para ela. Terminar a faculdade, fazer o mestrado, doutorado. Queria emagrecer dez quilos. Operar a vista. Queria voltar a dançar e ele nunca se disponibilizou a ir com ela. Quis companhia para ir ao mercado e ele estava ocupado demais trabalhando.

Havia se decidido: aquela mulher era mulher da sua vida. Não podia deixar que ela se afastasse. Precisava mantê-la colada ao peito. Afastá-la de todas as dores do mundo. Aquela era a mulher que escolheu pra chamar de sua. Não era possível que ela não entendesse isso. Achava que se tivessem um filho deles, estariam conectados pelo resto da vida.

Na verdade, ela estava confusa. Não sabia nem se queria ter contato com aquele homem para o resto da vida. Uma vida é tempo demais. Lembrou-se de todas as renúncias que teria que fazer e pôs-se a chorar. Via-se presa a uma rede de carências da qual nunca conseguiu se desvencilhar. Era isso! Só estava com ele para suprir essa vontade de não estar sozinha consigo.

Desde que ela chegara, o apartamento estava cheio de vida. A toalha que ela deixava na cama, a mania de comer vendo televisão. Desde que ela chegara, os banhos eram cheios de amor. O modo como ela ensaboava o corpo todo para depois deixar a água levar a espuma. O jeito como escorria o pente nos cabelos lisos e pretos. Imaginava o mesmo cabelo para o filho que teriam.
Casamento já seria um golpe grande demais para a pretensa liberdade vivida por ela. Mas essa idéia de doido de ter um filho ultrapassou as barreiras da insanidade.

- Então, quer ter um filho comigo? – perguntou mais uma vez na esperança de que a resposta fosse positiva.
Neste momento, ela queria correr, sumir, voar, explodir. Ela desejou chamais tê-lo conhecido para que não precisasse viver isso. Mas covardemente respondeu que queria o mesmo filho. No fundo, sabia que só uma criança preencheria a solidão de si mesma vivida por ela.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Vida Vazia

Aqui parece vazio. Não sei se é casa que me deixa assim ou eu que me torno vazia a cada dia aqui. Sou confusa, atrapalhada, passo bastante tempo fingindo que sou forte até cair como uma menina. Aliás, falando em menina, não venham me dizer que não o sou. Aliás, como boa menina, eu me dou ao direito de estar de pote cheio e de pote vazio. Queria que você estivesse aqui, mas basta você chegar pra que eu queira que se vá. Queria te amar pra sempre, mas não sei se isso depende do meu bem querer. Hoje, eu queria sair só, mas não tomo vergonha pra sair. Tem acontecido com bastante freqüência, eu quero, mas não faço. Se continuar assim, acho que não vou mais me querer.
Nem sempre faço sentido, é pra fazer? Vem no manual de instruções que o homem deve fazer sentido? Isso vale pra mulher também? Nem sempre quero, mas exijo explicações o tempo todo, de todo mundo. Na verdade, se eu não faço muito sentido, é justo que os outros façam. Na minha cabeça, as coisas todas precisam fazer sentido. Mesmo que a minha cabeça não faça sentido pra ninguém.
Espero demais porque dou demais. Agora, eu me perdi, será que dou demais pra poder querer demais? Só sei que eu quero, quero as respostas de e-mails de gente que escorregou pelos meus dedos e que eu amava como amava um beija-flor e que ficaram no passado. Exijo resposta dos que não foram, mas de quem não mandei e-mail algum. Em muitos momentos, demonstrei menos querer e não fui querida. Depois disso, me achei boa por não ter caído numa cilada. Mas silenciosamente, eu sinto falta do não vivido por medo.
Falando em medo, acusaram-me de não tê-lo. Na hora eu me senti destemida, só que agora, eu me sinto fraca. Como pude fingir que não tinha medo por tanto tempo? Sentir medo não é pecado e se tivesse sido medrosa, será que não teria parecido menos auto-suficiente.
Conheci alguns homens que quiseram cuidar de mim. Poucos, acho eu. Ou será que outros quiseram, mas eu era forte demais pra ser cuidada? Meu pai o faz com maestria, sempre fez e eu sempre quis ser a filha com personalidade e me dei pouco tempo pra entender os cuidados dele. Cuidados estes que eu achava inconvenientes. Hoje, eu to sozinha e me sinto sozinha frequentemente.
O telefone que não toca, o telefone que não é atendido. Não sei se ligo de novo, você deve estar dormindo. Quando sinto vazio de você, tendo a ligar pra outras pessoas pra ver se preenche. Acho que não devia achar que os outros devem me encher, saudade de quando eu dizia bastar a mim mesma. Não lembro se eu bastava mesmo ou dizia isso porque estar vazio é como estar um pouco morto.
Queria ser com você o que eu sou com os outros. Mais independente e bem resolvida. Não queria depender de você pra calcular minhas contas ou pra pagá-las. Queria te amar descompromissadamente, dá? A gente tem tanta coisa que não tem mais tanto tempo pra se amar, só amar. Queria passear na praia e só, não queria estar vazia e do teu lado. Queria sentir-me cheia de alegria por estar com você, meio preenchida. Não to dizendo que você é a única coisa que me faz feliz. Mas queria estar mais feliz contigo. Também não to dizendo que tô infeliz.
Queria estar com borboletas na barriga, eu acho. Será que a paixão acabou e tá dando lugar àquele amor boboca, chato, repressor, com barriga de chopp e camisola de vovó? Não gosto dele. Sempre achei que não queria viver o amor pra sempre, quando a gente só ama, a gente separa pra não matar o amor porque amor é sagrado.
Queria ter tempo de estar apaixonada por você ou de estar apaixonada por alguma coisa. Queria que você não conhecesse todas as minhas roupas pr’eu acreditar na sua capacidade de se surpreender quando eu estiver realmente bonita. Queria andar na praia de mãos dadas. Já disse? A gente pode voltar a ter tempo pra namorar sem ter que falar de dinheiro? De contas a pagar? Espero que sim porque eu não posso viver assim por muito tempo.
Você me faz feliz, eu quero estar contigo sempre. Mas preciso respirar outras coisas e você também. Mesmo que outras coisas sejam nós mesmos com coisas novas. “Há de ter o prazer do saber e a leveza do
experimentar...” .
Tem dias que eu olho seu sorriso lindo e penso como é bom estar do teu lado. Mas hoje não é um dia assim, hoje, eu penso que queria ver a mesma beleza do seu sorriso. Hoje parece que a vida se esvaiu um pouco de mim, amor.



Texto de Julho de 2010.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Meu Menino

Entre mil caminhos possíveis, eu te encontrei. Já não me lembro como e quando nos tornamos assim como somos hoje. Também já não sei mais se existe vida sem você. Eu, no fundo, gosto de pensar que não há. Só de ser permitido o pensamento da existência de vida depois da plenitude da mesma contém em si crueldade demais para um coração leviano como o meu.

Nós dois sabemos dos nossos defeitos. É uma cumplicidade absurda. É o amor que compreende. Você me aceita como eu sou e sabe que sou torta. Todos os dias, se apaixona por esta como se fosse a única.

Você, meu amor, é a representação do verbo amar. Queria eu amar do teu jeito. Saber amar como ti faria de mim alguém melhor. Mas nós dois sabemos da leviandade do meu ser. Sabe dos folhetins que escrevo. Nós dois sabemos que o amor não são minhas paixões momentâneas.

Talvez, me restem poucas palavras pra dizer que te amo. Sabe de uma coisa, João, eu te amo, sim porque você é o homem mais completo do mundo. Lá fora, amor, é frio sem você. O mundo carrega crueldade demais para almas apaixonadas. De qualquer modo, ter você faz de mim mais do que sou, de fato. Sou mais bonita, mais gostosa, mais inteligente, mais vitoriosa, mais controlada. Você faz de mim o melhor de mim. E foda-se, não quero que haja vida sem você.

Eu te amo, meu menino.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Medo do Medo que dá

O meu medo é o de dormir sozinha. Fazê-lo significa solidão demais para um corpo como o meu. Eu tenho um medo silencioso do fracasso, da tristeza, da decepção. Tenho medo de fazer escolhas erradas que me deixem passar as noites sozinha ou em busca. Não quero ter buscar aquilo que já encontrei. Não gosto de imaginar como é sofrível viver a procurar.

Dormir sozinha significa muito mais do que ocupar a cama inteira. Significa imaginar que terminarei sempre sozinha à noite. Ou que a companhia fica condicionada a uma porção de variáveis que incluem planejamento demais.

Significa um contentamento fingido de quem já teve a companhia que queria. É ter que ser novamente um alguém forte porque ninguém pode perceber os momentos em que se é menininha e vulnerável.

Eu tenho mesmo medo de dormir sozinha e sei que sou grande demais para isso, mas o medo não vem da pequenez, o medo simplesmente vem e a gente sempre tenta fingir que não tem. Medo é medo. Não quero ser grande e fingir que não vai fazer diferença passar as noites sozinha.

Talvez o meu medo seja estar fadada à solidão.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Vontade da Saudade

Queria escrever cartas saudosas. Mandar dizer a todos os amigos que estarei de volta e desejo que assim fosse. Queria dizer aos amores que larguem seus atuais amantes porque estou indo de encontro a nossa felicidade. Queria ter saudade porque a saudade alimenta a poesia e é permissiva.

Queria dizer a uma amiga que sinto a falta dela, mas a saudade é um sentimento tão bobo que faz com que nos acostumemos com ele todos os dias. Queria ainda sentir saudade dessa amiga e não ter medo de que percamos as palavras. Queria que as notícias que vejo dela fizessem sentido pra mim. Tanta coisa mudou desde que ela se foi.

Durante um tempo, eu ainda tinha forças pra perguntar como estava, o que fazia, pra onde ia, mas agora, nosso amor ta assim meio morno, meio na geladeira, meio na espera. De repente, seja só uma fase que dura. Descobri que as coisas duram mais depois dos vinte, quiçá, aos vinte e um.

A vontade da saudade tem um quê de masoquismo besta. Tem um quê de amor abandonado, esquecido, aprisionado e maltratado. A vontade da saudade é o amor guardado, esperando pra acontecer.

Eu só sei que há amor naquilo que se foi junto.