Outro dia, o meu irmão me fez uma espécie de elogio. Ele nunca elogia se não é perguntado. Neste dia, ele disse que era muito chato pras outras mulheres o fato do meu cabelo ter passado o dia todo aprisionado num coque e quando solto ainda estar bonito. Não tinha parado pra pensar no elogio meio irônico do meu velho irmão, mas agora, me lembrou ao velho avô que sempre que perguntado se eu estava bonita ao estar me olhando pela milionésima vez no espelho, ele dizia: ta bonita, sim. Agora anda logo pra não se atrasar. Na semana anterior a partida do meu velho, ele disse que eu era bonita e não falou nada sobre o atraso. Depois disso, meu velho nunca mais falou nada. Quando o velho partiu, eu não queria acreditar. Não era mesmo fácil viver sem ele e nós seguimos vivendo.
Nesta época, quem deixou o lar fui eu. Deixei meu pai e meu irmão na casa. Nenhum dos dois ocupou o quarto. Fica meio vazio, meio a espera da Dona ainda que eles não digam nada sobre isso. Quando eu disse que sairia, meu pai disse que meu quarto não estaria esperando meu retorno. Acho que ele desejou o meu fracasso pra que pudesse estar de volta. Tem dias, eu assumo, que eu desejo meu fracasso também e o retorno ao que chamo de lar.
Estou entediada e sei que em casa não ficaria assim. Em casa também não ficava sozinha sempre. Gustavo teria preparado algo pra nós dois. Afinal de contas, existem muitas coisas para serem vistas.
Estar longe dele me lembra dos dias em que não agüentei e vim atrás dele quando ele veio morar com o nosso pai. Gustavo escolhia ficar de castigo comigo quando eu era respondona. Detestei quando ele jogou futebol pela primeira vez, não jogava aquilo e ele não estava comigo. Detestei quando levei uma chinelada por causa dele. Senti orgulho dele algumas vezes e me frustro por ele se sentir infeliz. Fiquei intimamente feliz quando ele, bêbado, me ligou de madrugada. Nem todo mundo liga pra irmã.
Se eu escutasse o que papai dizia, não o teria deixado aflito e não teria tanta saudade do meu grande irmão.
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